Sunset Glow, Tyler Wind
Todos os dias são dias de poesia! Mas hoje, especialmente, Dia Mundial da Poesia, não poderia terminar sem passar aqui um poema de um dos nossos maiores poetas, Mário Cesariny. Um poema dele, entre tantos dele especiais, mas que é um dos que mais me encanta, em absoluto! A ele presto a minha mais sincera homenagem!
"O navio de espelhos"
Não navega, cavalga
Seu mar é a floresta
Que lhe serve de nível
Ao crepúsculo espelha
sol e lua nos flancos
(Por isso o tempo gosta
de deitar-se com ele)
Os armadores não amam
a sua rota clara
(Vista do movimento
dir-se-ia que pára)
Quando chega à cidade
Nenhum cais o abriga
(O seu porão traz nada
nada leva à partida)
Vozes e ar pesado
é tudo o que transporta
(E no mastro espelhado
uma espécie de porta)
Seus dez mil capitães
têm o mesmo rosto
(A mesma cinta escura
o mesmo grau e posto)
Quando um se revolta
há dez mil insurrectos
(Como os olhos da mosca
reflectem os objectos)
E quando um deles ala
o corpo sobre os mastros
e escruta o mar do fundo
Toda a nave cavalga
(como no espaço os astros)
Do princípio do mundo
até ao fim do mundo
© 1965, Mário Cesariny