quinta-feira, 28 de junho de 2007

Psapp



Os Psapp parecem ser bastante divertidos e inovadores! Quero conhecer melhor...

sábado, 23 de junho de 2007

Primavera-Verão


Primavera... quase não tivemos. Será que o Verão veio para ficar? Este ciclo ao qual nos habituámos parece estar a mudar. Uma certa irritabilidade pode instalar-se quando esperamos algum calor e o sol a brilhar e nada disso acontece, na época marcada. As referências alteram-se e o mundo pode começar a parecer um lugar inóspito de tão imprevisível pela negativa.
Claro que esta visão pode ser só um certo desconsolo pela falta do Verão... Hoje, o dia amanheceu solarengo. Boas perspectivas!

(Imagem de Butterfly Fairies )

terça-feira, 19 de junho de 2007

Interpretar...


Comprei este livrinho há dias e gostei imenso da leitura. Atraiu-me a ideia de acompanhar os últimos dez anos da vida de Ravel. Sempre tive uma grande curiosidade acerca da vida dos compositores, Mozart, Schubert, Debussy, Satie... Mas sobre Maurice Ravel (1875-1937) nunca tinha pesquisado muito. Surgiu, agora, a oportunidade de ficar a saber mais acerca dele pela leitura deste romance de Jean Echenoz. Apesar de não se tratar, de facto, de uma biografia, mas sim de uma ficção à volta de um personagem real. Não deixa de ser enriquecedor, até porque do escritor pouco sabia e, agora, tenho-o como referência a não esquecer. Gostei mesmo do livro!
A capa que aqui apresento é da edição francesa. Entre nós, o romance foi publicado pela Sextante Editora (anteriormente, Sudoeste Editora). Num pequeno livro simplesmente apetecível... E que me apeteceu. Ficando além da minha expectativa.
Jean Echenoz fala-nos de Ravel de uma forma elegante, atraente e simultaneamente objectiva e rigorosa. Pelo fio da sua narrativa, somos conduzidos até factos e questões extremamente interessantes. Apesar do anti-psicologismo com que Echenoz gosta de caracterizar as suas personagens, conseguimos compreender um pouco do homem que foi compositor. Admiramos, de alguma forma, o compositor que habitou o homem.

Neste livro, uma das questões que mais me tocou, entre outras, foi aquela a que se refere o pequeno excerto que aqui transcrevo:

"(...) Em Viena, é convidado com Marguerite para um grande jantar seguido de uma recepção em sua honra oferecida em casa de Paul Wittgenstein durante a qual, este, que encomendou e a quem foi dedicada a obra, vai tocar o concerto com a sua própria mão. (...).
Desde o início da interpretação, e enquanto vai seguindo o concerto pela partitura, que Marguerite, sentada desta vez ao lado do autor, pode ler no rosto cada vez mais macilento de Ravel as consequências lastimáveis das iniciativas do maneta. É que Wittgenstein não se limitou a simplificar a obra para adaptá-la aos seus recursos, pelo contrário, aproveitou a ocasião para mostrar até que ponto, por diminuído que esteja, não deixa de ser um bom intérprete. Em vez de respeitar a obra e servi-la o melhor que pode, ei-lo a fazer brilharetes, acrescentando arpejos, compassos aqui e ali, desenhando trinados, meneios rítmicos que o texto não lhe pedia, apogiaturas e grupetos, passando dos baixos aos agudos, percorrendo o teclado por inteiro, para mostrar como é ágil, como é vivo, como é uma criatura condescendente e se está nas tintas para todos os presentes. O rosto de Ravel fica branco.
No final do concerto, (...): Ravel aproxima-se devagar de Wittgenstein, e nunca ninguém o viu assim desde o caso com Toscanini. Isto não pode ser, disse ele, friamente. É que não pode ser de maneira nenhuma. Não pode ser, está a ouvir? Meu caro, diz Wittgenstein a tentar defender-se, eu sou um velho pianista, e tal como o senhor escreveu é que não pode ser tocado, não soa bem. E eu sou um velho orquestrador, responde Ravel cada vez mais gelado, e digo-lhe que pode. (...)
(...)
Mas Ravel não se esquece daquilo que para ele é o mais importante: desde o seu regresso a França que se opõe totalmente à vinda de Wittgenstein, que estava interessado em ir dar um concerto em Paris. Escreve-lhe umas simples palavras nas quais dá a entender que a sua interpretação não passou de uma má imitação e convida-o a tocar a sua obra rigorosamente tal como foi composta. Quando Wittgenstein, vexado, lhe responde que os intérpretes não devem ser escravos, Ravel responde-lhe por sua vez em quatro palavras: Os intérpretes são escravos."
in Ravel, Jean Echenoz
Nota: O sublinhado é meu.

Ora bem. Esta questão da relação entre compositor e intérprete, a dificuldade de atingir um acordo quanto à forma correcta de execução, é uma questão perene. No domínio da música e não só. Coloca o sempre difícil problema da interpretação.
Sempre achei fascinante a ideia transmitida por muitos pianistas e outro tipo de intérpretes: a de que, em determinada altura, terão "entrado" na mente e na sensibilidade do compositor cujas obras executam. Na verdade, parece-me extraordinário, conseguir sentir, pensar, como sentiu/sente, pensou/pensa um outro. Sobretudo se o meio de comunicação entre estes dois seres é a linguagem musical e não a verbal. O que é particularmente relevante na interpretação das obras dos compositores do passado. Como se, desta forma única, uma ponte que se estende para além do tempo e da morte fosse construída. Construída porque julgo ter muito de trabalho persistente, mais do que espírito de uma certa "mística".
Será, então, o intérprete um escravo? Ou um intérprete imprime sempre algo de seu, o seu próprio "eu" fará sempre sentir-se na sua execução? O seu cunho pessoal? Ou será tanto mais fiel à obra e ao seu autor, se conseguir despojar-se de si e investir-se do "espírito" de um outro? É para pensar...
De qualquer modo, se interpretar é tornar-se escravo, é de observar e escutar um escravo absolutamente magnífico que penso poderá elucidar todas as respostas possíveis. Quando todas as palavras parecem vãs perante esta expressividade:



(YouTube: Bernstein Plays Ravel's Concerto in G )

Mais acerca de Jean Echenoz aqui

domingo, 17 de junho de 2007

Recordar...



Na câmara de reflexão

IV

Reúno coisas comovidamente:
Da mãe, o xaile azul, do namorado
Um beijo no Relvão, da avó demente,
O anjo que cantava no telhado;

Da ilha, a hota lassa que ao poente
Rendia o mar a um sono nacarado,
De febris coisas, já no Continente,
Num clarão de ametistas, o amado,

Dos meus passos da cruz, as cicatrizes;
Da minha estrela errante, outros países;
Do breve encontro, um rosto que se esfuma...

Coisas que em busca da sua ligação
Reúno. Absurda sensação
De as juntar e não ter coisa nenhuma.

Natália Correia

sexta-feira, 15 de junho de 2007

A Metafísica do Olhar

- Anda cá. Olha bem lá ao fundo. Consegues ver a minha casa?
- Não, não vejo nada. Se calhar, está longe demais.
- Não, não está longe. Está mesmo ali, por trás daquela colina. Vê-se perfeitamente daqui. Tens que olhar com atenção.
- Mas não vejo. Desculpa.
- Repara. Aquela casa lilás, ali ao fundo... Não vês as janelas? E o brilho de todas as cores que delas emana? E o terraço azul-oceano, enfeitado com dezenas de taças repletas de todas as frescas delícias, por ti desejadas?
- Não. Na verdade, não consigo ver. Gostava de te acompanhar, mas não vejo mesmo nada do que me queres mostrar.
- Repara bem. Não estás a olhar comigo. Experimenta assim: fechas os olhos e procuras, lá no fundo de ti , a imagem. Mas procuras com muita força. Com todas as tuas garras. Bem afiadas.
Experimenta lá, agora. Agarra a imagem.
- Humm...hummm... Acho que estou a ver qualquer coisa...! Mas é indistinta. Só cor e brilho. Não vejo casa nenhuma.
- Não acredito! Então, não me vês a abrir-te a porta para entrares?! Não vês o enorme jardim verde-esmeralda e amarelo irradiante, onde poderás correr livremente e estender o teu olhar?! Onde te quero oferecer todas as delícias frescas que possuo?!
- Pois. Desculpa. Está um bocadinho difícil... Tens que ter paciência comigo.
- Não te preocupes. Eu sou paciente. Mas tens que imaginar. Liberta a tua imaginação comigo. Verás que está tudo lá. Verás que é real. A nossa realidade. Minha, desde há muito. E agora, tua também. Logo que a vejas, começo a partilhá-la contigo.
- Entendo.
- Não queres fazer mais um esforço? Ora, tenta lá de novo.
- Humm...humm... Sim! Sim! Estou a conseguir. Ainda não muito bem. Há muita névoa. Mas acho que vou ser capaz.
- Eu bem te disse. É só questão de quereres. De quereres com muita, muita força! Tens que dominar o teu olhar. Ora, olha lá de novo... Não vês agora, distintamente, a minha casa que te ofereço? Será o teu reino. Apodera-te dele. Primeiro, com o olhar. O resto, fica para depois...
- Vou usar todo o poder da mimha imaginação. Espera...está qualquer coisa a aparecer... Vejo quase...quase... tudo o que dizes. Espera só mais um bocadinho...
- Eu espero. Já vês, agora?
- Oh, sim! Que maravilha! Agora, sim. Vejo tudo perfeitamente! Tudinho. Até me vejo a mim... lá...
- Pois. Eu sabia que eras tu... Deixa-me abraçar-te melhor... Encontraste o meu olhar. Sinto que vais ficar comigo...

(Imagem: fotografia de autor desconhecido)

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Silly Walks!



Imperdíveis!!!

terça-feira, 12 de junho de 2007

Do Sísifo que há em mim...



Pois é! Dias há em que a multiplicidade de tarefas nos vem afrontar como empreendimento impossível de realizar. Elas surgem em catadupa e para contrabalançar esta espécie de sufoco apenas se vislumbram imagens-miragens de umas meras horas de descanso. Lá ao longe, o sofá parece um oásis. Inalcançável.
Às vezes, dava jeito ter uma "gavetazinha" (de tamanho gigante!) onde se conseguissem guardar, longe da vista, todas as tarefas que é preciso realizar mas que estão por cumprir. De vez em quando, abria-se a dita gaveta e lá se tirava uma...ou outra... Mas evitava-se o permanente confronto com todas ao mesmo tempo e seria possível gerir melhor o seu constante apelo. Mas não. Eu ainda não consegui arranjar a dita imaginada "gavetazinha". Terrível!
Em contrapartida, o que parece acontecer, inúmeras vezes, é as tarefas aparecerem sem se fazerem rogadas, quer em número, quer em exigência de concretização. Não adianta fugir. Estão por todo o lado. Abre-se uma janela e elas entram feitas vendaval, em forma de pó para limpar ou de ideia para concretizar. Se, ao contrário, a janela é fechada e a porta aberta (é preciso renovar o ar!), ei-las entrando de rompante, sem se fazerem rogadas, sem pedir licença nem nada, instalam-se no dito sofá, então um não-oásis!
Portas e janelas fechadas. Pois. Mas lá estão elas a rondar o espaço da casa. E ainda é pior sentir o seu lamento de passos em volta, a pedir que as deixe entrar. Danadas! Resta sair de casa e esperar que não nos persigam, que se esqueçam de ir atrás de nós... Mas não. Das mais estranhas e inesperadas formas se revestem para surpreenderem e aparecerem ali mesmo à frente, batendo o pé, teimosas, expectantes. Ou atrás, sussurrando em lamento a imensa falha da sua realização sempre adiada. Ou de lado, olhando de soslaio, não querendo dar parte de fracas mas mantendo a sua vigilante presença. Impassíveis perante o peso que me fazem sentir. Reparo nelas a partir daquele ângulo onde o olhar quase consegue eclipsá-las. Mas as malandras deixam-se vislumbrar num cantinho da minha esgotada visão que até acontece ser visão raios-x, por vezes, conseguindo atravessar paredes e todo o tipo de obstáculos, vendo-as com toda a nitidez por detrás de tudo! Isto é que é um poder! Pena ser o meu único pretenso super-poder...
Postas as coisas assim, o que se impõe perguntar é o que fazer com elas. Com as ditas. Às tantas começam a ganhar contornos de fantasmas. O melhor é enfrentá-los. Não permitir espectros indefinidos atrás de nós, dissolvê-los no ar que respiramos à medida que se enfrentam um a um... Apesar da consciencialização que se vai operando, pela qual se torna clara, nítida e distinta a sua inevitabilidade e a necessidade de aprender a conviver com tarefas para sempre.
Faz todo o sentido que a fadiga se imponha, a partir desta existência cumpridora de múltiplas tarefas. E não admira que passe a ser síndroma de fadiga crónica. Talvez não seja possível contornar isto, a não ser com umas ideias românticas... Ora, o que é um pensamentozinho insidioso? Talvez aquele que a pouco e pouco se insinua em nós e penetra não só nos poros, na pele mas também nas ideias, que marca não só os pensamentos mas sobretudo os gestos. E é assim que é possível tomar nota da monotonia das tarefas, da rotina da sua execução, da inevitabilidade da sua necessidade, da perpétua repetição a que estamos sujeitos enquanto espíritos empreendedores que pode acontecer sermos. Mas também fica, pela mesma via, justificada a razão de ser da sua natureza preciosa. Como existir sem elas?! Não seria algo deste nosso mundo!
A fadiga pode ganhar proporções e contornos mais perigosos quando é psicológica. Quer dizer, quando fica claro, nítido e evidente que nunca vamos conseguir realizar tudo. E a vastidão do tudo, tão imensa, cansa logo à partida. É inútil. Não nos é possível. É uma tarefa interminável. Por outro lado, é este processo lento mas inexorável da consciência que nos coloca bem no centro da nossa verdadeira condição: a humana.


É precisamente aqui, neste ponto, que faz sentido recordar esse tão interessante Mito de Sísifo, símbolo do nosso interminável esforço para concretizar uma tarefa em grande medida impossível de realizar. Embora o esforço permanente seja inútil, parece ser igualmente irredutível. Maravilhoso contrasenso! Já me sucedeu, um belo dia, dois belos dias, ... acordar com esta aguda consciência da minha condição "sisifiana". Momentos fugazes, felizmente! Mas que se tornaram dignos de registo. Momentos em que, cansada, pude sentir-me feliz. Feliz perante essa "pedra", a qual com dificuldade se consegue colocar no topo da montanha e logo começa a resvalar para vir ter de novo connosco. Parece mentira, mas consegui sentir-me estranhamente apaziguada perante a tremenda empreitada.
Ai! É em momentos assim que me sinto mais realizada. Feliz por não conseguir ficar de braços cruzados a olhar para a pedra. Rindo-me dela, impassível, imóvel. Ou olhando-a indiferente sem sequer a ver, de facto. Feliz por não conseguir render-me face à inutilidade do movimento ascendente que volta a impulsionar a pedra para o topo. Sempre repetido. Feliz por esta teimosia persistente. Romanticamente feliz com o inútil. Alegre por possuir esta tarefa tão gritantemente humana. Absurdo? Talvez. Mas quando é que é possível ser-se humano sem se ser absurdo?
Esta absurda humanidade feliz... Que me leva a querer dizer com Camus: " A própria luta para atingir os píncaros basta para encher um coração (...). É preciso imaginar Sísifo feliz."
Serei, então, maravilhosamente absurda! Está decidido.

Bom...nesse caso, tenho que ir ali concretizar mais umas tarefas..
.

(Imagens: "Sísifo" de autor desconhecido e "Fatigue", ilustração de Steve Adams)

domingo, 10 de junho de 2007

Ney Matogrosso: Poema

sexta-feira, 8 de junho de 2007

E pur si muove...


Às vezes, ponho-me a pensar... Acho que o faço sobretudo para me convencer de que tenho muito tempo disponível. Claro que, depois, fico com menos tempo livre. Mas, não importa, nunca resisto à tentação de ludibriar a pressa, o corre-corre... Esse tempo que não sabemos se passa, mas o certo é que nós vamos passando... E pronto, esta cogitação toda acerca da imobilidade e do movimento, trouxe-me à ideia a figura incontornável de Galileu Galilei. O célebre autor da célebre frase: "E pur si muove..." Fantástica! E inesquecível, ao que tudo indica... Ela move-se! A Terra não está parada. Nós também não! Essa é que é essa!
É realmente muito incómodo quando alguém aparece com ideias novas e nos obriga a um novo olhar em relação a alguma coisa que temos por certa. Normalmente, gostamos de saber qual o chão que pisamos, "as linhas com que nos cosemos"... etc. Não deve ter sido agradável, na época, para muita gente, sobretudo gente importante, aparecer alguém a querer virar tudo de pernas para o ar. Estou a imaginar-me nesse tempo, estou a sentir a intolerância cá dentro. A vontade de dizer: "Loucura! A terra está bem parada, se assim não fosse, nada se equilibraria, etc..." No entanto, ele afirmou e provou que se movia. Hoje, sabemos bem que se move e toda a nossa perspectiva de vida se alterou face a esse passado tão distante, onde o modelo aristotélico-ptolomaico do universo configurava a estrutura mental dos grandes pensadores da época. Hoje, subjacente na nossa mente, está esta ideia do movimento da terra. Aliás, do movimento de tudo... E devemos isso a Galileu. Claro que também o devemos a Copérnico e até a Kepler. Mas Galileu foi para a frente com a ideia. E fez tudo para a provar. Tirou-nos da estabilidade confortável mas incongruente. Levou-nos mais além, projectou-nos para os confins do universo com a sua célebre luneta. Foi daqueles que quiseram saber mais... É por isso que admiro a sua honestidade intelectual. Para além das polémicas acerca de ter renegado ou não o que afirmou. Parece que preso ficou. É o que reza a história. Mas, embora preso, continuou a pensar e a trabalhar nos seus projectos.


Luneta de Galileu

Galileu devia ser um homem muito teimoso. E persistente. Para além de curioso e inteligente. Construiu a sua luneta e pôs-se a olhar os céus... Viu coisas que contradiziam tudo o que era tido por verdade indiscutível e de natureza sagrada, face à crença na criação divina. Fez cálculos, imaginou hipóteses, pensou experiências, realizou outras... Olhou de novo uma e outra vez, perscrutou os céus incansável. Finalmente, afirmou: "Copérnico está certo!". Deste modo, fez tremer a ordem instalada, introduziu uma ruptura no pensamento da época, levando esse pensar de então para uma nova orientação de sentido irreversível. Teimoso mas dinâmico. Tal como a terra e todo o nosso universo.
Agora, sabemos que somos grãozinhos de poeiras estelares, talvez... Pela sua agregação, surge a matéria, incluindo a de que somos feitos, a nossa "argamassa". Habitamos um planeta que gira sobre si próprio e à volta do Sol, em vez do contrário. Conhecemos, assim, um pouco melhor o nosso lugar no universo. Temos consciência de que somos pouco no meio de um universo imenso onde nem sequer parecemos estar em situação privilegiada (algures na "cauda" da Via Láctea). É certo que somos seres vivos e, por isso, possuímos uma complexidade especial. Mas nada nos garante sermos a única forma de vida inteligente, muito menos, a mais inteligente. Não sabemos. Precisamos de mais Galileus! Precisamos de quem consiga ver mais além... Precisamos de tantas coisas, enfim...

Esquecemos vezes infinitas que nos movemos, ao longo dos nossos dias, de cabeça para baixo e de pernas para o ar. Claro que não vemos isso, mas basta alguém conseguir sentar-se na lua ou mais realisticamente, ficar à janela nas instalações de uma estação orbital ou de um satélite (qualquer dia, será mais vulgar do que se possa imaginar), para vermos o mundo todo de "pernas para o ar"! Na verdade, ele já está mesmo assim. Ideia simpática ou não, é assim.
E há dias estranhos, dias nos quais, por dentro da normalidade quotidiana, nos sentimos sem "pés na terra", desafiando a lei da gravidade, de "cabeça no ar", em vez de sentirmos a gravidade a mantê-la no lugar adequado. Com massa, sim, mas sem peso. Livres. E ao mesmo tempo... não será isso que nos permite alargar horizontes? Ver tudo numa outra perspectiva? Galileu olhava incansavelmente o céu, sempre de "cabeça no ar". Olhos postos nos planetas, nas estrelas...Claro que isto só pode ser pontual. E em grande medida, metafórico. Ou seríamos projectados vertiginosamente para os confins do universo...
Mas fazem falta uns momentos de "cabeça no ar". É bom trespassar as nuvens e entrar na estratosfera. Se o céu estiver limpo, ainda melhor.
Contar estrelas é outra das minhas ocupações favoritas!

(imagens de autores desconhecidos)

quarta-feira, 6 de junho de 2007

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Naïveté


Aposto que quem por aqui passa (é um prazer para mim que por cá passem...!) já está um bocado cansado(a) de ver o desenho do Einstein! Até eu estou! Bom...vou actualizar isto com umas reflexões naïfs... Resultantes de distúrbios do sono. Insónias, propriamente ditas.
O Einstein, que sempre achei um personagem interessante (há tantos, felizmente!), ficou célebre por causa da relatividade (além da Bomba H, é claro!). Ai, a relatividade, que ideia tão frutífera! Por exemplo, quando a gente pensa: é tudo tão relativo...que quer isto dizer ao certo? Eu diria que tem a ver com a questão do ponto de vista do observador. Mas isto, toda a gente o sabe... A mim, apetece-me especular. Talvez especular seja preciso.
O ponto de vista do observador, em física, significa que consoante o local onde nos encontremos, assim teremos a correspondente perspectiva dos fenómenos. A cada posição corresponde uma determinada visão. As posições alteram-se, quer no espaço, quer no tempo. Transpondo isto para os fenómenos de ordem psicológica, significa que cada um de nós, consoante uma série de coisas que não interessa enumerar aqui, agora, terá a sua própria perspectiva de tudo o que o rodeia, de si mesmo, dos factos,etc...
Postas as coisas nestes termos, o que se pode concluir do ponto de vista da teoria da relatividade é que é difícil as pessoas entenderem-se. Quer dizer, os pontos de vista tornam-se consensualmente impossíveis, uma vez que o espaço e o tempo onde cada um se situa não são os mesmos. Não só é fisicamente impossível duas pessoas ocuparem o mesmo espaço, como é realmente certo que cada um vive a passagem (será que passa mesmo?) do tempo de forma diferente. Acho que assim se explica a dificuldade de entendimento entre as pessoas. Em rigor, teríamos que estar "no lugar do outro" para elaborar exactamente a mesma perspectiva. O que é impossível, certo?
Enfim... especulações...
Mais uma, para "encerrar" a actualização.



Deitar a cabeça na almofada pode ser um momento interessante, mesmo que o sono não nos invada. É nessa hora que nos ocorre, lá do fundo das lembranças, essas, sim, adormecidas, antigos e sugestivos conselhos propiciadores do "sono dos justos". Que, às vezes, teima em não chegar. Uma possibilidade de contornar esta dificuldade é, realmente, a de seguir os conselhos das avós e começar a contar carneirinhos: um carneirinho...dois carneirinhos, três carneirinhos... e por aí fora.
Perseguindo teimosamente esta contagem, podendo ela não surtir o efeito desejado, pode dar-se o caso de se verificar que o sono não chega com este tipo de ajuda, apenas porque... já não há carneirinhos!!! Quer dizer, a partir de certa idade, é difícil adormecer a contar carneirinhos. Deve ser por isso que se vendem tantos fármacos para induzir o sono. Mas eu que sou teimosa, ando a ver se adormeço com carneirinhos. Estão um bocado esbatidos na minha memória, por isso, consegui esta imagem que reaviva os carneirinhos da minha infância. Acho que vou conseguir dormir melhor! A ver vamos...

(Imagens: "She could not sleep" de Emma Chichester Clark e "Carneirinhos" de autor desconhecido)

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Einstein e a música



"(...) Einstein começou muito cedo a ter aulas de violino, que se prolongaram até aos 14 anos. A princípio, a prática repetitiva e interminável não lhe agradava nada, mas por fim a música tornou-se uma parte fundamental da sua vida. Mais tarde, escreveu que só depois de se ter apaixonado pelas sonatas de Mozart, aos 13 anos, começara verdadeiramente a compreender e a apreciar a música. Acrescentou ainda que o amor é melhor professor do que o dever. Para Einstein, esta era sem dúvida uma verdade irrefutável, pois detestava as abordagens mecânicas à educação."
in Einstein, Vida & Época, Peter D. Smith



"Einstein tinha pela música um amor profundo, que raiava o espiritual. Hans Byland recorda ter tocado sonatas de Mozart com o jovem Einstein, então com 17 anos: «Quando ele começou a tocar violino, a sala pareceu amplificar-se. Eu estava a ouvir o verdadeiro Mozart pela primeira vez em toda a beleza grega da limpidez das suas linhas, ora graciosas ora magnificamente poderosas. Aquilo é divinal, dizia ele, temos de tocar outra vez. Que alma na forma como tocava! Eu não o reconhecia.» Os compositores preferidos de Einstein eram Bach, Mozart e Schubert, (...)."
in Einstein, Vida & Época, Peter D. Smith


"A mais bela experiência que podemos ter é a do misterioso. Ele é a emoção fundamental que permanece no berço da verdadeira arte e da verdadeira ciência. Quem não sabe disso e já não consegue surpreender-se ou maravilhar-se, está praticamente morto e tem os olhos embaciados. Foi a experiência do mistério - ainda que misturado com o medo - que deu origem à religião. O conhecimento da existência de uma coisa em que não podemos penetrar, as nossas percepções da razão mais profunda e da beleza mais radiante, as quais só são acessíveis à mente na sua forma mais primitiva - é este conhecimento e esta emoção que constituem a verdadeira religiosidade; neste sentido, e apenas neste sentido, sou um homem profundamente religioso. (...)"
in «What I believe» (1930), Albert Einstein

(Imagens obtidas aqui e aqui )