sexta-feira, 30 de março de 2007
quinta-feira, 29 de março de 2007
segunda-feira, 26 de março de 2007
Faith And Reason
Colin McGinn: um filósofo da actualidade que vale a pena conhecer.
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Ana Paula Sena
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03:33
Livros: convite à leitura

Apesar de considerar que a filosofia não pode reduzir-se por inteiro a este tipo de análise, considero ser um excelente trabalho de divulgação, o qual certamente tem tudo para chegar ao grande público. Recomenda-se a leitura a todos, desde os estudantes de Filosofia até ao leitor comum, já que é super agradável, nada maçadora e muito estimulante. A linguagem é extremamente acessível e as questões abordadas, como não poderia deixar de ser, muitíssimo interessantes.
A revisão científica é de Desidério Murcho, King's College, Londres, assim como a direcção da colecção. Para os interessados, como eu, é bom estarem atentos às próximas publicações.
Sobre a Colecção, pode ler-se na contracapa: " Filosoficamente é uma aposta da Bizâncio para apresentar, quer ao grande público, quer aos estudantes e professores, obras de Filosofia de natureza diversa, criteriosamente seleccionadas e imprescindíveis."
Sobre o autor é-nos dito o seguinte: " Colin McGinn frequentou a Universidade de Oxford onde foi também professor. É um dos mais importantes filósofos da actualidade, tendo escrito inúmeros artigos sobre Filosofia e os filósofos em publicações como a New York Review of Books, London Review of Books, New York Times Book Review, etc. Já escreveu diversos livros de Filosofia e publicou um romance. Ensina na Rutgers University e vive em Nova Iorque."
Alguns excertos que selecciono:
" O que haveria eu de fazer, porém, depois de ter decidido que os problemas da Filosofia que mais me interessavam não poderiam ser resolvidos? Continuar a explicar aos outros por que razão as suas ambições filosóficas são inúteis? Achar outra coisa em que trabalhar que me desse mais esperanças de progresso? Por acaso, uma das cadeiras que oferecíamos em Rutgers não tinha professor aquele ano - Problemas Filosóficos na Literatura. Ofereci-me para dar a cadeira, apesar de nunca ter ensinado nada do género antes. A minha intenção, (...), consistia em usar obras de literatura como materiais para uma cadeira de ética. O meu próprio interesse na escrita ficcional foi um dos motivos, mas também gostava da ideia de me voltar para algo completamente novo; (...). O objectivo era fazer uma cadeira sobre o tema negligenciado da vida."
" O principal resultado de dar esta cadeira,(...), foi ter escrito um livro intitulado Ethics, Evil and Fiction (...). Um dos capítulos intitula-se «A Personagem Perversa», no qual tentei delinear e explicar a psicologia de uma pessoa perversa. Também isto me levou mais um par de vezes a aparecer na televisão, nas quais discuti vários psicopatas e malfeitores. As personagens nos romances que estava a leccionar foram um estímulo para este trabalho, mas alguns dos acontecimentos nas notícias também me impeliram a considerar outras personagens malfeitoras, (...). O meu tema geral era o de que personagens perversas invertem a empatia normal que sentimos pelo sofrimento alheio: em vez de sofrerem quando os outros sofrem, divertem-se com o sofrimento alheio. O sádico é precisamente alguém que retira prazer do sofrimento alheio. Distingui os motivos do sádico puro dos daquelas pessoas que são instrumentalmente más: uma pessoa pode causar sofrimento aos outros com o objectivo de conseguir outra coisa, por exemplo, através de um roubo violento, mas o sádico é alguém que causa sofrimento aos outros sem outra razão para o fazer.
É o que classificamos de pura malvadez. A personagem James Claggart, em Billy Budd, é o puro mal, pois procura destruir o inocente Billy sem outra razão a não ser destruí-lo; não retira qualquer benefício, como promoção, da desejada destruição. Sugeri que uma profunda inveja existencial tem um grande papel neste tipo de mal - principalmente a inveja da virtude e da inocência. Claggart queria Billy morto por causa do seu sentimento invejoso de nunca poder vir a ter a natureza bondosa de Billy; o ódio da bondade é gerado pela inveja que se tem dela. Acho que os filósofos morais deveriam discutir mais este tipo de tema, (...). Em qualquer caso, a literatura fornece claramente um campo imenso para a reflexão moral. Não se trata de um mero acidente o facto de falarmos da "moral da história"."

Mais tarde naquela mesma noite, também tive uma breve conversa com Anthony Hopkins, (...). Como já tinha observado, dizem muitas vezes que sou parecido com ele, pelo que aproveitei a oportunidade para lhe pedir a opinião. Hopkins olhou-me directamente para a cara durante um longo momento, com as pessoas a andar de um lado para o outro à nossa volta, enquanto ele pesava a pergunta, até que proferiu o seu juízo: «Não, de facto não somos parecidos, apesar de perceber por que possam as pessoas achar isso.» Concordei, dizendo que nunca me tinha ocorrido tal coisa até as pessoas começarem a mencionar o facto. E ele acrescentou, depois de uma pausa significativa, com uma voz que só ele domina: «Bom, talvez em volta dos olhos.» Com olhos nos olhos, acenei a minha concordância, (...)."
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Ana Paula Sena
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02:34
domingo, 25 de março de 2007
De Matisse
Um outro aspecto pelo qual Matisse me fascina é a forma como o traço fica numa zona intermédia, algures entre o figurativo e o abstracto. Essa tensão essencial é um permanente apelo à imaginação através do nosso olhar.
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Ana Paula Sena
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05:11
sexta-feira, 23 de março de 2007
O sentido das palavras: "amor"
Que tipo de amor preferimos?
"O amor concupiscente : faz desejar a coisa que se ama."
'desejar ardentemente; ambicionar' e designa aquilo 'que tende ao prazer apaixonado dos sentidos' :
O amor concupiscente, enquanto amor-desejo, contrapõe-se ao amor platónico.
Da mesma família: cúpido, cupidez, Cupido, concupiscência
"Amar com um amor oblativo":
Oblativo vem do particípio perfeito latino oblatu-, do verbo offero 'oferecer', mais o sufixo adjectival -ivo, e designa aquele 'que se oferece voluntariamente' :
O amor oblativo é o que se traduz numa dádiva da própria pessoa.
Da mesma família: oblação, oblata
"Amor captativo"
Captativo vem do particípio perfeito latino captatu-, do verbo captare 'tentar deitar a mão a algo; prender' mais o sufixo adjectival -ivo, e designa aquilo 'que tem o poder de agarrar ou captar; absorvente' :
O amor captativo procura o domínio do ser amado.
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Ana Paula Sena
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03:45
quinta-feira, 22 de março de 2007
Às voltas com fotografia...

Esta fotografia pode deixar-nos algo decepcionados, mas, segundo pude averiguar, é a mais antiga que se conserva.
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Ana Paula Sena
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10:15
quarta-feira, 21 de março de 2007
Cesariny no Dia Mundial da Poesia
"O navio de espelhos"
Não navega, cavalga
Seu mar é a floresta
Que lhe serve de nível
Ao crepúsculo espelha
sol e lua nos flancos
(Por isso o tempo gosta
de deitar-se com ele)
Os armadores não amam
a sua rota clara
(Vista do movimento
dir-se-ia que pára)
Quando chega à cidade
Nenhum cais o abriga
(O seu porão traz nada
nada leva à partida)
Vozes e ar pesado
é tudo o que transporta
(E no mastro espelhado
uma espécie de porta)
Seus dez mil capitães
têm o mesmo rosto
(A mesma cinta escura
o mesmo grau e posto)
Quando um se revolta
há dez mil insurrectos
(Como os olhos da mosca
reflectem os objectos)
E quando um deles ala
o corpo sobre os mastros
e escruta o mar do fundo
Toda a nave cavalga
(como no espaço os astros)
Do princípio do mundo
até ao fim do mundo
© 1965, Mário Cesariny
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Ana Paula Sena
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23:20
Para uma amiga (em especial)
" Meu caro senhor Kappus:
Longo tempo passou sobre a sua última carta. Não me queira mal. Trabalho, incómodos e preocupações quotidianas impediram-me de lhe escrever. Além disso, desejava que a minha resposta fosse o eco de dias calmos e bons. (...)
(...) Sabemos muito poucas coisas, mas a certeza de que devemos sempre preferir o difícil não nos deve nunca abandonar. É bom estar só, porque a solidão é difícil. Se uma coisa é difícil, razão mais forte para a desejar. Amar também é bom, porque o amor é difícil. O amor de um ser humano por outro é talvez a experiência mais difícil para cada um de nós, o mais alto testemunho de nós próprios, a obra suprema em face da qual todas as outras são apenas preparações. É por isso que os seres (...) precisam de aprender. Com todas as forças do seu ser, concentradas no coração que bate ansioso e solitário, aprendem a amar. Toda a aprendizagem é um tempo de clausura. Assim, para o que ama, durante muito tempo e até ao largo da vida, o amor é apenas solidão, solidão cada vez mais intensa e mais profunda. O amor não consiste nisto de um ser se entregar, se unir a outro logo que se dá o encontro. (...) O amor é a ocasião única de amadurecer, de tomar forma, de nos tornarmos um mundo para o ser amado. É uma alta exigência, uma ambição sem limites, que faz daquele que ama um eleito solicitado pelos mais vastos horizontes. Quando o amor surge, os novos apenas deviam ver nele o dever de se trabalharem a si próprios. (...)
(...) Nunca, nem na morte, que é difícil, nem no amor, que também é difícil, aquele para quem a vida é uma coisa grave terá a ajuda de qualquer luz, de qualquer resposta já dada, de qualquer caminho de antemão traçado. Não há regras gerais para nenhum destes deveres que trazemos escondidos em nós e que transmitimos àqueles que nos seguem sem jamais os esclarecer. Na medida em que estamos sós, o amor e a morte tocam-se. As exigências dessa terrível empresa que é o amor através da nossa vida não são à medida dessa vida e jamais estaremos à altura de merecer o amor desde os primeiros passos. Mas se, à força de constância, consentirmos em suportá-lo como dura aprendizagem, (...), talvez um progresso insensível, um certo alívio possa então resultar para aqueles que nos seguirem (...).
A mulher, que uma vida mais espontânea, mais fecunda, mais confiante habita, está sem dúvida mais perto do humano do que o homem - (...). Esta humanidade, que na dor e na humilhação amadurece a mulher, virá à superfície quando esta quebrar as cadeias da sua condição social. E os homens, que não sentem aproximar-se esse dia, ficarão surpreendidos e vencidos. (...) E estas palavras: «rapariga», »mulher», não significarão somente o contrário de «homem», mas qualquer coisa de pessoal, valendo por si mesma; não apenas um complemento, mas uma forma completa de vida: a mulher na sua verdadeira humanidade.
O amor deixará de ser o comércio de um homem e de uma mulher para ser o de duas humanidades. Mais perto do humano, será infinitamente delicado e cheio de atenções, bom e claro em tudo o que fizer ou desfizer. Este será o amor que, lutando duramente, agora preparamos: duas solidões que se protegem, se completam, se limitam e se inclinam uma para a outra. Isto, ainda: Não julgue que o amor que conheceu adolescente se tenha perdido. Não foi ele que fez germinar em si aspirações ricas e fortes, projectos de que ainda hoje vive? Tenho a certeza de que esse amor apenas sobrevive, tão forte, tão poderoso na sua recordação, pelo facto de ter sido a primeira ocasião de estar só no mais profundo de si próprio, o primeiro esforço interior que tentou na sua vida.
Meu caro senhor Kappus, todos os meus votos de felicidade. Seu
Acrescento ainda o seguinte: há uma certa nostalgia em relação a escrever cartas. Deixámos de as escrever?
Para mais detalhes sobre Rilke e alguns poemas, quem estiver interessado pode clicar, por exemplo, aqui
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Ana Paula Sena
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09:34
terça-feira, 20 de março de 2007
Tentativa 2
Nada sou
Sendo fantasma ou espectro
Remota ideia que cedeu
No apagamento do eu
Neste medo de perder
Uma hipótese de mim
Que se instala com vagar
Como se já fosse assim...
No medo de poder ser todos
Que equivale a ser nenhum
Nesta tortura da mente
Em que penso
Que ela mente
Porque eu sou sempre assim
Este eu que se levanta
Que se afirma de repente
Sem sobressalto ou lamento:
Exige-se a si,
Urgente.
E é quando a noite cai silenciosa
Que fico mais receosa
A questão insidiosa
Viscosa...
Agarra-se a mim.
Guardo então todo o meu ser
Com infinito cuidado
E a febre de quem se ama
Pois mesmo assim
Certa
Gosto de mim
Louca
Quero ser afinal
Uma heroína imortal
Daquelas que nunca vi
Aqui
Nesta dimensão carregada
De real.
A.P.
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Ana Paula Sena
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12:45
segunda-feira, 19 de março de 2007
Tentativa 1
Da Palavra
Eu não sou poeta
Nem sei se de poeta há em mim
Mas sei que agora é o que quero
Estender a minha mão
Voar num largo silêncio
Agarrar a palavra esquiva
Que tal como eu
Anda à deriva
Mirar o seu horizonte
Perder-me na perspectiva
Não ser capaz de a dizer...
Aqui, onde estou, neste instante
Onde tudo da palavra eu quero
Não sei como hei-de dizer
Que me apetece abri-la
Encontrar nas suas entranhas... o sentido
Deixá-la ser
E ser com ela
Um pouco de significado
Tentar dizê-la (indizível)
Com ela a fugir de mim.
Nesta inteira suspensão
Onde a procuro e não acho
Ando às voltas dentro de mim
Perdida nas prateleiras
Onde a palavra é um sonho
Um sonho que não tem fim
Volta e meia ela é dita
Mas fica a rir-se de mim...
E só me resta um olhar
Para a palavra enfrentar.
A.P.
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10:52
quinta-feira, 15 de março de 2007
Poesia
Amo as palavras que estão
Entre o arcaico e o difuso
No cerne da indecisão.
Prefiro adrede e gomil
Digo delíquio e fanal
E só descrevo um funil
Em termos vaso de graal.
Mas nesta minha importância,
Neste sol que me irradia,
Nem Deus preenche a distância
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Ana Paula Sena
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10:47
quarta-feira, 14 de março de 2007
terça-feira, 13 de março de 2007
Objectos de desejo 1
Adorava, por exemplo, servir um cházinho neste bule! Impossível, claro! Mas imagine-se...

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Ana Paula Sena
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11:09
Famafest 2007
De 16 a 24 de Março
9º Festival Internacional de Cinema e Literatura
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Ana Paula Sena
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10:12
segunda-feira, 12 de março de 2007
Ataraxia (II)
- Do grego Atarakos, imperturbado. Logo, ausência de perturbações. Conforme se poderá consultar na Wikipédia.
Ou ainda, quanto a este significado, num dicionário de Termos Filosóficos Gregos:
- Sem perturbação, equilíbrio, tranquilidade da alma. Relacionado com Hedone (prazer).
Segundo um fragmento de Demócrito, registo testemunhado por Cícero, a ataraxia era o sumo bem, designada, por vezes, como firmeza de espírito.
Este ideal da ataraxia encontra-se sobretudo nas correntes filosóficas da Antiga Grécia, pirronismo e epicurismo. De importância igualmente considerável é a sua presença no estoicismo. Cada corrente fez deste conceito uma interpretação algo distinta. No entanto, todas elas relacionaram a ataraxia com a possibilidade de alcançar a felicidade.
Para quem possa ter um interesse maior sobre este termo e respectivo ideal, o qual merece uma renovada atenção nos tempos actuais, um texto excelente pode ser encontrado aqui
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Ana Paula Sena
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09:28
Ataraxia (I)
"De entre todas as coisas do mundo, umas há que dependem de nós,outras não dependem de nós.
As que dependem de nós são as nossas opiniões, os nossos movimentos, os nossos desejos, numa palavra, todas as nossas acções. As que não dependem de nós são o corpo, os bens, a reputação, numa palavra, todas as coisas que não se incluem entre as nossas acções.
As coisas que dependem de nós são livres por natureza, nada as pode fazer parar ou obstruir; aquelas que não dependem são fracas, escravas, sujeitas a mil condicionalismos e a mil inconvenientes, e são-nos inteiramente alheias.
Lembra-te, pois, que se tu tomas por livres as coisas que são por natureza dependentes, e por próprias aquelas coisas que dependem dos outros, encontrarás obstáculos por toda a parte, cairás em aflição, ficarás perturbado e lastimar-te-ás dos deuses e dos humanos; ao contrário, se consideras teu o que depende de ti, e alheio o que depende dos outros, jamais alguém poderá forçar-te a fazeres aquilo que não queres, nem poderá impedir-te de fazeres aquilo que tu queres. Então não te lastimarás de ninguém, não acusarás ninguém, não farás nada contra a tua vontade, ninguém poderá prejudicar-te e não terás inimigos.
Primeiramente, quando imaginas alguma coisa deplorável, é preciso que estejas pronto a dizer-lhe: tu não passas de uma imaginação, não és aquilo que pareces.
Em seguida, examina bem (isso que imaginaste), aprofunda esse exame, e para poderes fundamentar o que imaginas serve-te das regras que aprendeste, sobretudo da primeira, que é a de saber se aquilo que te aparece ( na imaginação) pertence ao número das coisas que dependem de nós, ou se não depende. Se ela se inclui entre o número das que não dependem de nós, pensa, sem fraquejar, que isso não te diz respeito."

O pensamento de Epicteto insere-se numa corrente filosófica geralmente designada por estoicismo, a qual pode ser muito polémica mas que, quanto a mim, no mínimo, contém alguns princípios admiráveis. Úteis para quem goste de reflectir um pouco e talvez mesmo imprescindíveis para a acção...
A quem possa interessar, um excelente texto que resume a filosofia estóica, pode encontrar-se aqui
e ainda sobre Epicteto, alguns dados podem ser recolhidos aqui
A poesia de Ricardo Reis possui toda uma atmosfera de inspiração estóica. O poema a seguir transcrito é um dos que prefiro de R.R. :
Todas as horas
Que nós perdemos.
Se no perdê-las,
Qual numa jarra,
Nós pomos flores.
Não há tristezas
Nem alegrias
Na nossa vida.
Assim saibamos,
Sábios incautos,
Não a viver,
Mas decorrê-la,
Tranquilos, plácidos,
Tendo as crianças
Por nossas mestras,
E os olhos cheios
De Natureza...
À beira-rio,
À beira-estrada,
Conforme calha,
Sempre no mesmo
Leve descanso
De estar vivendo.
O tempo passa,
Não nos diz nada.
Envelhecemos.
Saibamos, quase
Maliciosos
Sentir-nos ir.
Não vale a pena
Fazer um gesto.
Não se resiste
Ao deus atroz
Que os próprios filhos
Devora sempre.
Colhamos flores,
Molhemos leves
As nossas mãos
Nos rios calmos,
Para aprendermos
Calma também.
Girassóis sempre
Fitando o Sol,
Da vida iremos
Tranquilos, tendo
Nem o remorso
De ter vivido.
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Ana Paula Sena
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01:17
sábado, 10 de março de 2007
Em Memória
A casa era longe de tudo. Por entre antigas árvores, irradiava uma estranha luz. Era a casa que habitava na sua memória. Tempos idos, vividos, agora recuperados. Ela via a casa e dirigia-se para ela. A porta meia aberta convidava a entrar. Um passo, dois passos ao luar. Aproximava-se. A noite tremia cheia de estrelas por cima da casa. O coração a bater descompassado. A casa era a dela e nem assim a conhecia. Nem assim sabia qual era exactamente o seu interior. Um frio no estômago, prestes a gelá-la. A força inevitável dos seus passos a avançar. Espreitou. No fundo dos seus olhos, a casa reflectia-se. Empurrou a porta e olhou... Um foco de luz surgiu por entre as sombras. O pai suavemente dormia, rosto encostado à mão, um ser iluminado. Aproximou-se e tocou-lhe ao de leve no braço repousado. Perpassou por si um suave abandono. O mesmo que emanava da casa. Era um momento suspenso no tempo. Onde não há nada a não ser um sono sem sonhos. O encanto de um descanso no silêncio. Tomou devagar a outra mão do pai, esquecida nos recantos do seu sono. Encostou-a ao peito e sentiu o calor do silencioso amor. Como por magia, logo fechou os olhos e adormeceu. Respirava com ritmo. Devagar. Respirava ao ritmo da casa. O pai era a sua alma. Por isso, a casa estava viva.
A.P.
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Ana Paula Sena
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04:55
quinta-feira, 8 de março de 2007
Mulheres ... já agora, que tal "a look in the mirror"?
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Ana Paula Sena
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05:32
Dia da Mulher ou Mulher todos os dias?
Mulheres!... Oiçamos JAZZ!!! Com os homens.
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Ana Paula Sena
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04:41
quarta-feira, 7 de março de 2007
Da Felicidade (segundo Henri Michaux)
" Às vezes, num repente, sem causa visível, percorre-me um grande arrepio de felicidade.
Vindo dum centro de mim, tão interior que eu o ignorava, ele leva, embora rodando a extrema velocidade, um tempo considerável a alcançar as minhas extremidades.
Esse arrepio é perfeitamente puro. Por mais extensamente que circule dentro de mim, nunca encontra nenhum orgão inferior, nem qualquer outro, de resto, nem encontra ideias, nem sensações, de tal modo é absoluta a sua intimidade.
E tanto Ele como eu estamos perfeitamente sós.
Talvez que, percorrendo todas as partes de mim, ele me pergunte à passagem: "Então, como vai isso? Posso fazer alguma coisa por si, neste sítio?" É possível. E que à sua maneira me console as entranhas. Mas eu não sou posto ao corrente.
Eu gostaria de proclamar a minha felicidade, mas que dizer? É uma coisa tão estritamente pessoal.
Dentro em pouco, o prazer é demasiado intenso. Sem eu dar por isso, no espaço de segundos, torna-se um sofrimento atroz, um assassinato.
A paralisia! digo cá para mim.
Faço depressa alguns movimentos, rego-me com muita água ou, mais simplesmente, deito-me de barriga para baixo, e a coisa passa."
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Ana Paula Sena
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10:25
terça-feira, 6 de março de 2007
Um poema sabe sempre bem

" É tão frágil a vida
tão efémero tudo!
(Não é verdade, amiga
olhinhos cor-de-musgo?)
E ao mesmo tempo é forte,
forte da veleidade
de resistir à morte
quanto maior a idade.
Assim, aos trinta e sete,
fechados alguns ciclos,
A vida ainda pede
mais sentimento, vínculos.
Não tanto os que nos deram
a fúria de viver,
como esses descobertos
depois de se saber
que a vida não é outra
senão a que fazemos
( e a vida é uma só,
pois jamais voltaremos)
Partidários da vida,
melhor: do que está vivo,
digamos "não" a tudo
que tenha outro sentido.
E que melhor pretexto
(quem o saiba que o diga!)
teremos p'ra viver
senão a própria vida?
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Ana Paula Sena
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10:12
A vírgula
"(...) a vírgula maníaca do modo de ser funcionário."
Grande poeta, Alexandre O'Neill!
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Ana Paula Sena
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09:24
segunda-feira, 5 de março de 2007
Wax Poetic feat Norah Jones - Angels
O anjo da fotografia.
Música e fotografia.
ou
Um pequeno toque de magia...
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Ana Paula Sena
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05:05
Fotografia II
Para mim, para todos e, em especial, para S.!
Parece-me também que no registo de imagens, quase fazendo parar o tempo pelo registo de instantes que ficam, há qualquer coisa de mágico. E esta sensação é deveras especial e tenho que confessar, é-me muito cara. Não posso imaginar a vida sem pequenos instantes de magia. Na literatura, no cinema, na pintura, na filosofia, na ciência,na música, etc,etc,etc... e na fotografia!!
" (...) No instante supremo,o homem, qualquer homem, fica registado para sempre, no seu gesto mais ínfimo e quotidiano. E, todavia, graças à objectiva fotográfica, aquele gesto fica doravante carregado com o peso de toda uma vida, aquela posição irrelevante, talvez desajeitada, resume e contrai em si o sentido de toda uma existência.
Eu creio que existe uma relação secreta entre gesto e fotografia. O poder que o gesto tem de retomar e convocar ordens inteiras de potências angélicas constitui-se na objectiva fotográfica e tem na fotografia o seu locus, o seu momento tópico. Benjamim escreveu uma vez, a propósito de Julien Green, que este representa os seus personagens num gesto carregado de destino, que os congela na irrevogabilidade de um além infernal. Creio que o inferno que aqui está em causa é um inferno pagão e não cristão. No Hades, as sombras dos mortos repetem até ao infinito o mesmo gesto: (...). Mas não se trata de uma punição, as sombras pagãs não são deuses condenados. A eterna repetição é, aqui, o código (...), da infinita recapitulação de uma existência."

(...)

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Ana Paula Sena
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01:29
sábado, 3 de março de 2007
Saint Etienne - A Good Thing (From Almodovar Film Volver)
Música...sim!
Filme...sim!
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Ana Paula Sena
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09:52
sexta-feira, 2 de março de 2007
Do amor (em jeito de divagação...)

A.P.
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Ana Paula Sena
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16:44
Do Universo



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Ana Paula Sena
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10:47
quinta-feira, 1 de março de 2007
Flags of Our Fathers (Music Sample)
Um filme de guerra com uma música que deseja a paz...
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Ana Paula Sena
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02:42