domingo, 4 de fevereiro de 2007

Mistérios do Cérebro (continuação)

Que dizer deste caso de Phineas Gage? Bom, interessante é ainda sabermos que a barra de ferro o acompanhou sempre, tendo sido enterrada com ele, em 1861, quando morre com 38 anos.


O seu cérebro foi conservado no Museu da Escola Médica de Harvard e foi, na década de 90, objecto de estudo por parte de António e Anna Damásio.

Constataram que as áreas responsáveis pelos movimentos e pela linguagem não tinham sofrido qualquer dano, o que explica que, quer a motricidade, quer a linguagem, não apresentassem qualquer anomalia. A zona verdadeiramente afectada era a das áreas pré-frontais. Concluiram ser preciso explicar a relação entre esta zona e a personalidade.

Damásio explica que as relações entre o córtex pré-frontal e as emoções se dão do seguinte modo: o córtex apoia-se nas informações emocionais para tomar decisões adaptadas; por outro lado, tem um papel de inibidor das emoções.

Ao contrário do que Descartes defendia (as emoções opõem-se à razão), Damásio defende que a emoção está intimamente relacionada com as escolhas racionais. A emoção pode ser um guia das nossas escolhas.


Se ocorrer uma ruptura entre o córtex frontal e o centro emocional (sistema límbico), como no caso de Phineas Gage, não há controlo das emoções, decorrendo daí um comportamento impulsivo e descontrolado.

Se ocorrer uma ruptura no sentido inverso, entre o centro emocional e o córtex frontal, se a informação não se estabelece entre as duas áreas, as consequências também são negativas. Neste caso, estamos perante uma indiferença afectiva. O que acontece é que a situação é reconhecida do ponto de vista cognitivo, mas como não há relação com a área emocional, não se manifesta qualquer sentimento.


Que poderemos sentir perante a nossa compreensão mais alargada do modo como o cérebro regula e coordena os nossos comportamentos? Decepção pelo mistério desvendado? Ou fascínio pela possibilidade de mais conhecimento? Bom, eu penso, tal como muitos, que se trata de uma história interminável. Não corremos o risco de ficar sem nada para descobrir. No entanto, nunca deixamos de desejar ir mais além... É por isso que recomendo, para além deste "O Erro de Descartes", de António Damásio, os outros livros do mesmo autor, na medida em que, Damásio, na sua incansável busca de saber, nos procura explicar de forma científica, processos para nós ainda tão desconhecidos, tais como a formação da consciência ou o modo como se desenvolve a mente de um criminoso. São livros de um inquietante interesse!

Assim, são de ter igualmente em conta: " O Sentimento de Si" e "Ao Encontro de Espinosa".
A terminologia presente nestes textos pode parecer demasiado técnica, mas isso não deve demover-nos, até porque Damásio nos explica tudo. E é garantido que, neste caso, algum sacrifício vale a pena.







Compreender o nosso cérebro só acrescenta mais surpresas e até uma certa magia à nossa existência. Que pode ser mais surpreendente do que termos dentro de nós algo tão complexo? Que pode existir de mais mágico do que sermos conduzidos por ele até onde queremos, mas também até onde não queremos?! O nosso cérebro é um verdadeiro feiticeiro de outros tempos... Poderoso, manipulador, encantador... E vai continuar.