quinta-feira, 5 de abril de 2007

Da Música (ainda...)

É para assinalar aqui uma descoberta mais recente a nível musical e num registo completamente diferente do anterior trabalho que referi (Christina Pluhar) :
Um álbum que considero absolutamente extraordinário!, "From the Plantation to the Penitentiary" de Wynton Marsalis.
Em comentário que pode ser lido no folheto da caixa do cd, é de citar, por exemplo, o seguinte:

"ART EVOLVES WITH SOCIETY AND IS INFORMED BY SOCIETY, but an artist should never be so intimidated by the need for social acceptance that he or she will change the personal discovery of a vital truth just to fit in with vaporous trends. (...)
Wynton Marsalis is one of the most important artists of our moment because the quality and range of his talent has few peers and his integrity is exceeded by no one. (...) this contemporary son of New Orleans made a name for himself (...). Marsalis reestablished the power and elegance of jazz in his time and for his generation and for all generations that came before or after his. This has now been going on for over twenty years and it was no small achievement when it began, and the opposition to what Marsalis went after was met both with great acceptance and great rejection. None of that stopped him from going his own way and from carrying much of the jazz world with him.




Wynton Marsalis

There were still problems because it sometimes seems to many that the balance achieved by integrity is impossible; the consequence is that the very idea of equilibrium starts to take on the form of a bitter myth due to the stubborn certitude of the protean opposition, which is almost as wily and flexible as art itself. One strain of opposition has evolved from the condition that began in 1619 when twenty African slaves arrived in Jamestown, Virginia. Neither those slaves nor anyone else knew that plantation bondage would last for over two hundred years and that 600,000 people would have to die in a bloody civil war before the slaves were freed into an ambiguous fate. That's how hard-headed the opposition to abolition was.
That is also why the certainty of inevitable freedom was made clear in the only way it could by Abraham Lincoln, (...). In his Second Inaugural Address, the president of the United States expressed the heroic and collective sense of democracy that he knew was the only solution. No, Lincoln did not bite his tongue on March 4, 1865 when he said, «Fondly do we hope, fervently do we pray, that this mighty scourge of war may speedly pass away. Yet, if God wills that it continue until all the wealth piled by the bondsman's two hundred and fifty years of unrequited toil shall be sunk, and until every drop of blood drawn with the lash shall be paid by another drawn with the sword, as was said three thousand years ago, so still it must be said 'the judgments of the Lord are true and righteous altogether'.»
The level of collective commitment made clear by Lincoln is what we need today, across all lines of political and ethnic distinction, because far too many of the descendents of those chattel now live in a variation on plantation life that has become a national presence so pernicious that it inspired the title track of this recording. (...)
As usual Marsalis continues to prove his preeminence as a trumpet player and a leader of men, this time bringing along a new singer that he is as proud of as he is of the remarkable instrumentalists who move on up to higher ground with him. (...)."
Stanley Crouch

Uma amostra deste trabalho de Wynton Marsalis e que é o tema de abertura do álbum:
"From the Plantation to the Penitentiary"

A letra (provocadora, como praticamente todas as das outras faixas):

"From the Plantation to the Penitentiary
From the yassuh boss to the
ghetto minstrelsy
In the heart of freedom...in chains
In the heart of freedom...insane
In the heart of freedom...insane
In the heart of freedom...in chains

From the field hand cry
To the ten to twenty-five
From the 'sold-off' men
To the raised by next-of-kin
In the cause of freedom and shame
In the cause of freedom and game

From the 'no book rules'
To the raggly public schools
From the coon and shine
To the unemployment line
In the land of freedom...in chains
In the land of freedom...insane

From the work long days
To the dope and drinking craze
From the stock in slaves
To the booming prison trade
In the name of freedom...insane
In the name of freedom...and shame
In the heart of freedom...in chains
In the heart of freedom...insane

A música:



Wynton Marsalis é talvez o músico de jazz mais importante e conceituado da actualidade (discutível, como quase tudo). Tem também inúmeros trabalhos enquanto instrumentalista na área da música clássica. É o Director Musical de Jazz no Lincoln Center (for the Performing Arts), New York. A par de tudo isto, é um músico muito polémico, alvo de inúmeras críticas. Considerado um virtuoso do trompete, é igualmente tido por muitos como um "purista" do jazz. Oriundo de New Orleans, vários irmãos seus estão também ligados à música. Durante a sua juventude, integrou os Jazz Messengers de Art Blakey com quem sentiu afinidades no estilo de jazz que pretendia desenvolver. Efectivamente, Art Blakey é um dos meus músicos de jazz preferidos. Daí provavelmente a minha forte adesão ao estilo de Wynton Marsalis.

Este músico que sempre procurou criar um estilo de jazz bastante fiel à tradição, apresenta, no entanto, neste seu último trabalho, um tema com inspiração de música rap! Porquê? Pergunta inevitável. Aliás, todo o álbum revela uma série de elementos com origens musicais distintas, em fusão com o melhor da tradição no jazz. Parece-me provável que Wynton Marsalis tenha sentido necessidade de evoluir no sentido de acompanhar a multiculturalidade que é a marca das sociedades actuais a vários níveis, em particular, a nível musical, integrando na sua criação artística influências provenientes de diversas subculturas. A sua abertura ao rap é exemplo disso. Um artista só pode evoluir acompanhando a evolução da sociedade. Por outro lado, existe um actual forte objectivo de intervenção na vida política e social norte-americana, por parte de W.Marsalis. Em especial, no que se refere às questões ligadas às diferenças étnicas que caracterizam esta sociedade (assim como a nossa!). E trata-se de chamar todos a intervir!

Digamos que talvez as críticas, relativas ao facto de Marsalis se afastar do chamado "free jazz", o tenham levado a suplantar-se, apresentando este trabalho bastante mai
s inovador, aspecto a que se alia a extrema qualidade de todos os músicos envolvidos, assim como uma concepção e um conhecimento do jazz repletos de sabedoria.

Quanto a mim, nada tenho contra o "free jazz", embora nem todo seja da minha predilecção. No entanto, há muitos destes músicos que admiro e dos quais gosto. A minha estética um pouco classicista quanto aos aspectos formais, conduz-me, no entanto, por exemplo, a Wynton Marsalis... E a criatividade não reside apenas em descobrir novas formas mas em explorar igualmente a partir dos conteúdos. Parece-me...

De todo o modo...Isto é JAZZ!

E o que quer dizer W. Marsalis com este título "Da Plantação para a Penitenciária"? Bom...tanto é possível discorrer sobre... Mas parece mais ou menos claro considerar que, hoje, muitos dos que estavam nas plantações (ou os que deles descendem), estão agora nas ruas e nas prisões. É preciso que todos pensem nisso, inclusive os próprios que lá se encontram. Porque estes não terão seguido a via mais adequada para a sua efectiva libertação. Em poucas palavras, é preciso fazer alguma coisa para mudar esta situação.

Para mais detalhes interessantes e músicas de Wynton Marsalis, clicar aqui