sábado, 21 de abril de 2007

Chopin



"Chopin propõe, supõe, insinua, seduz,
persuade; quase nunca afirma."
André Gide


Eis como Chopin seduz e persuade (neste caso, eu diria que, excepcionalmente, até afirma!), por exemplo, com este estudo conhecido por "Revolucionário":




"A primeira série de pequenos Estudos ("Études"), Op.10, de Chopin, constitui, juntamente com o segundo conjunto de doze, Op.25, publicado quatro anos depois (1837), a Magna Carta da técnica pianística romântica. Muitos livros de estudos para piano tinham sido publicados antes destes, sendo que cada um deles era dedicado a um aspecto particular da execução, tais como escalas, arpeggios, tercinas e oitavas. O próprio Chopin deveria conhecer bem os estudos de Czerny, Clementi e Cramer. O que faz com que os seus se destaquem é que, embora cada um deles constitua um desafio técnico particular, este está embebido na poesia da música.

Os Ops.10 e 25 de Chopin, tais como são conhecidos no meio, estenderam o alcance do piano até aos limites da tonalidade e ao mesmo tempo revolucionaram a técnica de dedilhação. Algumas das audaciosas harmonias eram conceitos novos em termos de som, tendo muitas delas vindo a constituir mais tarde a base do Impressionismo. De todos os estudos para piano, os de Chopin são simultaneamente os mais exigentes para quem os toca (com a possível excepção dos de Liszt) e os mais gratificantes para quem os ouve.

Os Estudos de Chopin foram a princípio criticados por serem demasiado difíceis. Moscheles queixava-se de que os seus dedos tropeçavam constantemente em modulações difíceis, nada artísticas e, no seu entender, incompreensíveis. O crítico e escritor alemão Ludwig Rellstab (1799-1860) observava:
«Quem tenha os dedos tortos pode endireitá-los ensaiando estes Estudos; mas quem não tenha não deve tocá-los, a menos que tenha um cirurgião de prevenção.»

Hoje, o Op.10 e o Op.25, juntos, constituem uma das pedras angulares da literatura para piano, de rigueur para qualquer pianista profissional conquistar e absorver. (...); o n.º 12 é o "Revolucionário", inspirado, segundo se diz, pela queda de Varsóvia em 1831, se bem que uma geração muito posterior tenha ficado a conhecê-lo por um disco infantil de 1957, Sparky's Magic Piano."
in Chopin, Vida e Obra, Jeremy Nicholas