domingo, 23 de setembro de 2007

Fast informação


Pode parecer improvável e ser loucura querer retroceder até a um tempo onde a informação não circulava. Ao tempo das trevas... Mas não, não se trata disso. Trata-se do seu reverso: a fast informação, aquela que se assemelha cada vez mais à fast food. Pode dar jeito e permitir-nos tempo para outras coisas. Mas sempre...torna-se agressiva.
Parece inútil dedicar algum tempo a uma refeição para degustar e digerir devagar. Quando há tanto para fazer... Mas, pessoalmente, comer à pressa, provoca-me dores de estômago.

Pois, a questão é que a informação está no mesmo ponto, digamos. Há tanta... nada mais resta a não ser consumi-la a correr. E, neste caso, nunca se passa fome. Mas provoca-me dores de cabeça. Na verdade, sinto-me algo decepcionada relativamente a isto. Perante tanto que vejo e que oiço, não chegando a consciencializar-me efectivamente de quase nada, a não ser daquilo que consigo dolorosamente seleccionar; perante tantos conteúdos que se auto-disponibilizam a cada segundo na atmosfera circundante... a cabeça fica um pouco à roda e os olhos inflamam-se perante tanta imagem. Os sons nem sempre se distinguem com limpidez... E fica a sensação de existir perante um tremendo inatingível... Parece que o humano criou o sobre-humano. Sim, porque é impossível consumir efectivamente e com profundidade tanta informação.

E se Deus é a transcendência... não sei se a actual sociedade da informação criada pelo ser humano não será algo como as antigas e belas catedrais góticas: um impulso para as alturas, para o humanamente impossível...ou seja, uma tentativa de superação das nossas limitações... As novas catedrais góticas constituiram-se, entretanto, enquanto propagação infinita de informação; as magníficas torres góticas são agora as invasões permanentes e incisivas de imagens, sons e ideias esboçadas superficialmente. Hiper-ficheiros informatizados ou em vias de o ser. Dos quais, na sua esmagadora maioria, nunca chegaremos a fazer o download, via rede neuronal. O que não invalida o impacto subconsciente desta informação fragmentada.

E perante este sentimento de impotência que me diz, por ex., ser impossível ler todos os livros que quero ler, entre os tantos que surgem, irrealizável ver todos os filmes que desejo ver, entre os variadíssimos que se disponibilizam, ou mera quimera tentar entender todas as grandes questões que diariamente se assinalam como importantes para a humanidade, assim como todo um etcetera interminável... perante esta limitação e esta percepção da finitude da minha condição humana... o mais estranho ainda é que não posso viver sem tudo isto, sem este infindável ruído, feito eco mesmo ao longo das horas de sono...

Sou filha do meu tempo? Serei... Mas não me é possível "mergulhar nele"... Tudo se transforma vertiginosamente e cada vez mais, aqui à superfície, nada é certo.

(A imagem é Cabeza rafaelesca estallando de Dalí )