Na câmara de reflexão
IV
Reúno coisas comovidamente:
Da mãe, o xaile azul, do namorado
Um beijo no Relvão, da avó demente,
O anjo que cantava no telhado;
Da ilha, a hota lassa que ao poente
Rendia o mar a um sono nacarado,
De febris coisas, já no Continente,
Num clarão de ametistas, o amado,
Dos meus passos da cruz, as cicatrizes;
Da minha estrela errante, outros países;
Do breve encontro, um rosto que se esfuma...
Coisas que em busca da sua ligação
Reúno. Absurda sensação
De as juntar e não ter coisa nenhuma.
Natália Correia