domingo, 18 de novembro de 2007

Disneylândia de Diane Airbus


Diane Airbus (1923-1971). Esta fotógrafa despertou o meu maior interesse, como já uma vez aqui referi.
A consciencialização que realizei acerca do seu trabalho resultou de ter visto o filme "Fur - An Imaginary Portrait of Diane Airbus" (realizado por Steven Shainberg, EUA, 2006).
O filme é baseado no livro "Diane Airbus: A Biography" (2005) de Patricia Bosworth. O acesso à vida e ao trabalho da fotógrafa foi estritamente controlado pela sua filha Doon, a partir de 1971, data em que a artista se suicidou. Só recentemente, Doon permitiu que fosse trazida a público, quer a vida, quer a obra da mãe. Em relação ao filme, ele motivou alguns protestos por parte da família, na medida em que o terão considerado não respeitador de alguns factos reais e importantes na vida de Diane Airbus.

Como o próprio título do filme indica, trata-se de uma visão imaginada. Por isso, abre apenas uma espécie de "janela imaginária", a partir da qual é possível captar a dimensão única do seu trabalho. O que pode ser muito...
Neste aspecto de possibilitar a abertura a um certo universo particular, o filme pareceu-me inegavelmente bom de tão revelador: o conflito latente de uma mulher, Diane, dividida entre a exigência e o desejo de perfeição, assim como de adequação absoluta aos ideais da sociedade norte-americana daquela época, e a necessidade de realização artística, face à energia criativa que a dominava cada vez mais. Pelo filme, é possível pressentir o conflito que nos vai invadindo de um modo algo silencioso e, por isso mesmo, muito subtil.


Na verdade, não considerei o filme uma obra maior. De assinalar, apesar disso, além do que já referi de positivo, a excelente interpretação de Nicole Kidman (a de Robert Downey Jr. não lhe é inferior) e, por outro lado, a forma como consegue recriar a densidade dramática da personalidade da fotógrafa, assim como a da sua própria vida, mostrando as peculiaridades da sua visão artística. Tem, portanto, o mérito de divulgar alguns aspectos do seu trabalho, ao mesmo tempo que consegue cativar para a originalidade do seu "um outro olhar". Que me pareceu tão intenso quanto inovador. De intervenção e de uma certa "fascinação". Na verdade, não o vou esquecer. Está registado fortemente nos arquivos da minha memória.
Por todos estes motivos, posso afirmar que gostei do filme.

Entre outros aspectos interessantes do trabalho de Diane Airbus, o que mais retenho é essa capacidade de recriação da realidade, introduzindo nela uma atmosfera de "diferença" perante a banalidade do real. Ao mesmo tempo que não deixa de revelar esse mesmo real com grande intensidade e lucidez. Por vezes, a realidade nua e crua mas tornada "especial".
Esta pequena divagação, acerca da minha admiração pelas fotografias desta artista, é uma igualmente pequena homenagem ao seu grande talento e criatividade.
Além da alusão ao filme, aqui fica também a Disneylândia vista com o seu "olhar" e a sua máquina fotográfica. Uma das minhas preferidas, entre as que encontrei...


(Imagens: Disneylândia de Diane Airbus e resultados de pesquisa no Google)