quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Alma Lusa ou Filosofia da Saudade

Para quem tem uma alma lusa... que o mesmo é dizer, para quem vive o sentimento da saudade.
Quando se olha o Tejo, jogo de sombras e névoas, ou ainda iluminado pela intensa claridade... quando se ouve, ao longe, o fado... toda a força da vida se condensa nessa intensa emoção que é saudade.
Consciência da relatividade de tudo? Vestígio de um passado repleto de partidas?
Podemos não saber. Mas faz parte de nós.



Poeta

Quando a primeira lágrima aflorou
Nos meus olhos, divina claridade
A minha pátria aldeia alumiou
Duma luz triste, que era já saudade.
Humildes, pobres cousas, como eu sou
Dor acesa na vossa escuridade...
Sou, em futuro, o tempo que passou -
Em num, o antigo tempo é nova idade.
Sou fraga da montanha, névoa astral,
Quimérica figura matinal,
Imagem de alma em terra modelada.
Sou o homem de si mesmo fugitivo;
Fantasma a delirar, mistério vivo,
A loucura de Deus, o sonho e o nada.

Teixeira de Pascoaes




"Só o que no mais íntimo da alma acalenta as altas aspirações dignificadoras do homem, só o que ama profundamente a vida e sente presente sempre o obsediante enigma do ser, aquele que, ao erguer nos braços uma criança, ergue uma alvorada no coração; o que compreende o sorriso macerado do humilde, a agonia do sonhador infecundo, tudo o que há de grande, trágico e inexprimível; esse só pode ensinar a vida."
Leonardo Coimbra, in Dispersos II


(Imagens: fotografia de autor desconhecido e Morte de Inês de Columbano Bordalo Pinheiro)