sábado, 21 de julho de 2007

LIVROS!


Em resposta ao simpático desafio colocado pelo Lauro António Apresenta (onde a boa inspiração é uma constante), aqui ficam 5 livrinhos da minha eleição. Evidentemente, escolher 5 livros de uma vida, mesmo que seja a minha, é complicado. Escolhendo 5, deixo variadíssimos de lado, muito importantes também.

O critério que decidi adoptar foi o de ter em conta alguns dos escritores que mais aprecio. Normalmente, se gosto de um livro, tendo a ler o mais possível do mesmo autor. O livro que assinalo de cada um deles não é necessariamente o melhor dos respectivos escritores, nem talvez aquele de que mais gostei, mas sobretudo, aquele pelo qual sinto maior afecto. Afinal, não sendo os 5 livros da minha vida, são 5 livros que fazem parte dela... e sempre assim será quanto a eles.

Henry James, Os Europeus - pela elegância da escrita e brilhantes retratos psicológicos.

"A mesa apresentava um anómalo e pitoresco repasto; e ao deixarem-na sentavam-se a conversar no grande pátio ou passeavam no jardim, à luz das estrelas, com os ouvidos cheios dos sons de estranhos insectos que, embora em todo o mundo se ache que fazem parte da magia das noites de Verão, pareciam ter para a baronesa, debaixo deste céu ocidental, uma ressonância incomparável."

Lawrence Durrell, Justine - pela descrição apaixonada de uma cidade: Alexandria que se "entranha" na pele e "invade" os subterrâneos da mente.

"Gare Central de Alexandria. Meia-noite. Orvalhada densa, sufocante. O silvo de rodas sobre o pavimento oleoso. Pântanos amarelados de luz fosforosa, túneis de sombra como lágrimas na fachada triste de um bastidor de teatro. Fora, apertados contra um muro de tijolos leprosos, dou-lhe um beijo de despedida."

Paul Auster, Leviathan - Pela capacidade de gerar o inesperado e a inquietação interior. Original, cinematográfico, profundo e metafísico q.b.

"Passou-se tudo muito depressa. Sachs passou por aquilo com uma náusea nas entranhas, uma vertigem na cabeça, uma corrente de medo nas veias. Estava tão cansado, contou-me, e passou-se tão pouco tempo desde o princípio até ao fim, que nunca conseguiu admitir que aquilo fosse real - nem sequer retrospectivamente, nem sequer quando me contou tudo dois anos mais tarde. Num momento íamos devagarinho de carro através do bosque, disse-me, e no momento seguinte tinham parado. Estava um homem em frente deles na estrada, encostado ao porta-bagagem de um Toyota branco (...)."

Karen Blixen, Sete Contos Góticos - Pela delicada sensibilidade, rico exotismo e profundo mistério das narrativas.

"Numa noite de lua cheia de 1863 um dhou vogava entre Lamu e Zanzibar, costeando a cerca de uma milha da praia.
(...) A noite calma era desconcertante no seu profundo silêncio, na sua grande paz, como se alguma coisa tivesse acontecido ao mundo; como se a alma do mundo se tivesse por magia confundido. Os ventos favoráveis da monção chegavam de longes terras, e o mar rolava, sob o seu poder seguindo a eterna viagem, à luz baça da Lua."

Edgar Allan Poe, A Filosofia da Composição - Pela problemática que gera relativamente à poesia.

"(...) não será considerado como uma quebra de decoro da minha parte mostrar o modus operandi pelo qual algumas das minhas obras foram compostas. Selecciono «The Raven» [O Corvo] por ser a mais conhecida de todos. É meu objectivo tornar manifesto que nenhum ponto na sua composição pode ser atribuído seja ao acidente ou à intuição - que o trabalho foi executado passo a passo, até à sua completude, com a precisão e sequência rígida de um problema matemático."

E a minha gratidão por todos os outros livros da minha vida...!

Muito obrigada ao Lauro António Apresenta por esta sugestão-desafio!

(Imagem: fotografia de António Sá)