Esta questão é de sempre e continuará a ser... Há quem se lembre ainda de a colocar abertamente e há também quem lhe dê respostas de interesse inesgotável. Crentes ou não crentes, como saber claramente se o somos ou não? Como descrever a nossa posição face a essa interrogação perene, com as melhores e as mais adequadas palavras? As que traduzam os nossos pensamentos sobre o tema mas também aquelas que espelhem as nossas emoções, face à vida e face ao seu reverso; face a um possível "Criador" ou perante um universo sem nada dessa dimensão...
Esta é a resposta de Michael Cunningham (entrevistado por Antonio Monda) :"Acredita em Deus?
Vejo que começamos logo pela Grande Pergunta. A parte mais séria de mim mesmo, aquela que está seriamente intencionada a não se deixar apanhar desprevenida por ninguém, diz: «Que esperas? Admite-o: Deus é uma coisa que inventámos para podermos conviver com a consciência da nossa mortalidade.» Os cães e os gatos pensam que vão viver para sempre, e não têm nenhum deus. Não consigo deixar de notar que as únicas espécies conscientes, desde o início, do facto de que um dia deixarão de viver são aquelas que erguem catedrais e organizam procissões com estátuas vestidas com túnicas. Mas, ao mesmo tempo, um universo que não contemple uma inteligência harmónica e superior de qualquer tipo é algo tão estéril... (...) É fácil, especialmente quando envelhecemos, orgulharmo-nos de nós mesmos devido à capacidade que temos de ver através de tudo, mas quando conseguimos ver através de tudo, encontramos o nada. E pergunto-me se eu, ou quem quer que seja, desejarei sincera e realmente ver-me assim tão desiludido por viver num mundo inteiramente desprovido de qualquer elemento de magia ou de mistério...
Michael Cunningham
Quando era criança, tinha um jogo chamado Magic Eight Ball. Era uma bola de plástico, parecida com uma bola de bilhar, mas grande como uma toranja, à qual se podia fazer perguntas, depois de a agitar com força. Numa janelinha de cor violeta apareciam oito respostas diferentes, e lembro-me de que uma delas era: «Resposta nebulosa: tenta mais tarde». Assim, prefiro citar este meu oráculo de infância, e à sua pergunta respondo: «Resposta nebulosa; tente mais tarde». Ou, se quiser que responda à pergunta numa perspectiva ligeiramente mais adulta: suspeito de que existem relações profundas e ainda não descobertas entre Deus e os princípios da física. E eu acredito na física."
Quando era criança, tinha um jogo chamado Magic Eight Ball. Era uma bola de plástico, parecida com uma bola de bilhar, mas grande como uma toranja, à qual se podia fazer perguntas, depois de a agitar com força. Numa janelinha de cor violeta apareciam oito respostas diferentes, e lembro-me de que uma delas era: «Resposta nebulosa: tenta mais tarde». Assim, prefiro citar este meu oráculo de infância, e à sua pergunta respondo: «Resposta nebulosa; tente mais tarde». Ou, se quiser que responda à pergunta numa perspectiva ligeiramente mais adulta: suspeito de que existem relações profundas e ainda não descobertas entre Deus e os princípios da física. E eu acredito na física."
in Acreditas? conversas sobre Deus e a religião, Antonio Monda
(Imagens: "Praying Hands" de Albrecht Dürer e fotografia de Michael Cunningham daqui )